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PRESENCIA ISSN:1885-0219 2014 n19 p10053

 

 

EDITORIAL

 

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Prescrição de Cuidados em Enfermagem de saúde Mental: um recurso a potenciar

Carlos Sequeira
Professor Coordenador na Escola Superior de Enfermagem do Porto; Doutor em Ciências de Enfermagem; Enf. Especialista em Enfermagem de Saúde mental e Psiquiatria; Presidente da Sociedade Portuguesa de Enfermagem de Saúde Mental; Diretor da Revista Portuguesa de Enfermagem de Saúde Mental; Coordenador do Grupo de Investigação NursID: Innovation and development in Nursing -CINTESIS- Faculdade de Medicina da Universidade do Porto. Porto, Portugal

Correspondencia: ESEP, Rua Dr. António Bernardino de Almeida, 4200-072 Porto, Portugal

Presencia 2014 ene-jun; 10(19)

 

 

 

Cómo citar este documento

Sequeira, Carlos. Prescrição de Cuidados em Enfermagem de saúde Mental: um recurso a potenciar. Rev Presencia 2014 ene-jun, 10(19). Disponible en <https://www.index-f.com/presencia/n19/p10053.php> Consultado el

 

    O tema que abordo neste editorial -prescrição de cuidados de Enfermagem em saúde mental- é um tema que me é muito querido, na medida em que, é muito importante para os enfermeiros de saúde mental e para as pessoas que são alvo de cuidados de enfermagem. Por outro lado, considero que é uma área pouco desenvolvida e pouco potenciada em termos profissionais.

Quando uma pessoa se encontra vulnerável ou tem problemas de saúde mental espera que os enfermeiros sejam capazes de avaliar bem a situação, sejam capazes de identificar de forma clara e objetiva o seu problema e que sejam capazes de implementar as intervenções mais adequadas, ou seja, aquelas que revelam maior evidência científica.

Considera-se neste contexto uma necessidade em cuidados de enfermagem de saúde mental um diagnóstico de Enfermagem tendo por base a Classificação Internacional para a prática de Enfermagem (CIPE/ICNP). Este é um aspeto importante, porque permite aos enfermeiros centrarem e focalizarem a maior parte do seu trabalho nas necessidades efetivas das pessoas e, consequentemente na resposta que possa ser mais adequada.

Por isso, entende-se por prescrição de cuidados de enfermagem todo o conjunto de intervenções de Enfermagem que visam: promover a saúde mental; prevenir um problema de saúde mental; minimizar as consequências de um eventual problema; contribuir para a resolução de um problema, quer seja de forma autónoma, quer seja de forma complementar e contribuir para a recuperação, reintegração e qualidade de vida da pessoa, família ou comunidade.

Nos diferentes contextos de ação dos enfermeiros podem ser necessários dois tipos de prescrições de intervenções:

As intervenções autónomas e as intervenções interdependentes: As intervenções interdependentes estão habitualmente associadas a outros profissionais, como por exemplo, a administração da terapêutica. Estas intervenções são prescritas nos seio da equipa multidisciplinar e são executadas ou co-executadas pelos enfermeiros. Por isso, a avaliação dos ganhos em saúde associados a este tipo de intervenções envolverá sempre a equipa multidisciplinar, ou pelo menos vários elementos dessa equipa. A responsabilidade pela garantia da qualidade da prescrição e da execução (neste caso) é repartida por todos os "atores" envolvidos.

As intervenções autónomas são da única responsabilidade dos enfermeiros, pelo que são responsáveis pela prescrição, implementação e avaliação do resultado. Assim, o processo completo associado às intervenções autónomas é composto por: avaliação - recolha de dados - organização dos dados - codificação dos dados (diagnósticos de enfermagem) - objetivos - prescrição das intervenções - implementação das intervenções - critérios de resultado e reavaliação.

Este percurso associado ao trabalho autónomo dos enfermeiros em saúde mental implica um conhecimento adequado sobre: os principais diagnósticos de enfermagem, sobre os dados que são necessários para sustentar cada diagnóstico e sobre a relação entre os diagnósticos de enfermagem e a efetividade das intervenções de enfermagem.

Acontece que tradicionalmente o enfoque de Enfermagem estava alocado ao diagnóstico de outros profissionais (habitualmente médico) - ex.: cuidados de enfermagem associados aos diagnósticos de depressão, esquizofrenia, demência e não aos diagnósticos de enfermagem, pelo que em resultado desse facto, ainda existe pouca evidência científica, ou existe uma evidência de nível baixo sobre a relação entre as intervenções de enfermagem e os diagnósticos de enfermagem.

Alguns exemplos:

Para uma pessoa com ansiedade elevada; comunicação comprometida; interação social comprometida; papel de cuidador ineficaz; sobrecarga do cuidador; stress do cuidador; família disfuncional; capacidade para enfrentar os problemas comprometida; capacidade para gerir o regime terapêutico comprometida; insónia; défice de conhecimentos; baixa literacia em saúde mental; dor psicológica, cognição comprometida; confusão aguda ou crónica; autoestima comprometida; risco de tentativa de suicídio; automutilação; abuso de álcool e drogas; luto ineficaz; (...).

Para estes diagnósticos de enfermagem, quer se tenha por referência a ICNP quer se tenha por referência a NANDA - quais são as intervenções que são mais eficientes?

As ligações preconizadas pela NANDA - NIC e NOC já nos disponibilizam uma proposta de prescrição de intervenções para cada diagnóstico, mas reitero, que se trata de uma proposta, sem esclarecer os níveis de evidência que a sustentam e os níveis de efetividade que são esperados para cada intervenção.

Por exemplo: para a ansiedade (diagnóstico NANDA) podemos prescrever, de acordo a NIC - as seguintes intervenções: diminuir a ansiedade; melhorar as estratégias de enfrentamento e executar terapia de relaxamento e para a memória comprometida (diagnóstico NANDA) sugere as intervenções: treinar a memória e terapia de orientação para a realidade. Mas, quais são os resultados esperados para cada uma destas intervenções? O que se pode dizer às pessoas sobre a eficácia dessas intervenções? São estas que apresentam melhores resultados em qualquer contexto?

Em síntese, considero que é fundamental que se reúnam sinergias entre as instituições de ensino e as instituições da assistência para que se possa investigar mais neste domínio, no sentido de disponibilizar as melhores evidências para a prescrição das intervenções de enfermagem em saúde mental.

Desta forma, com a sistematização de padrões de qualidade em saúde mental que permitirão conhecer quais as melhores práticas clinicas em cada contexto, seja na psicogeriatria, intervenção de saúde mental na comunidade ou no internamento, serão fornecidos contributos muito significativos para as pessoas.

A nível internacional, também é possível reunir esforços que possibilitam a validação de guias de orientação clínicas que facilitem a tomada de decisão dos enfermeiros no momento da prescrição.

Uma adequada prescrição das intervenções de enfermagem é fundamental para:
-Dar consistência ao conhecimento em enfermagem;
-Trazer imparcialidade ao cuidado dos diferentes pacientes;
-Garantir a eficiência associada às intervenções de enfermagem;
-Garantir a qualidade das práticas de enfermagem;
-Garantir práticas que cumpram requisitos científicos e estejam em consonância com a evidência empírica;
-Contribuir para uma recuperação mais consistente e mais rápida, da pessoa com doença mental facilitando a sua autonomia, adaptação e reintegração.

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